Desce novamente sobre mim
Pesado dossel entrópico.
Deitado sob ele e sobre plúmbeo leito
Sinto o frio das profundezas galácticas.
Relembro todas as infinitas eras,
Do caótico universo em sua sabedoria,
Toda a tristeza e solidão das criaturas
Fadadas ao ostracismo universal.
Bato os dentes de frio e medo.
Somente o silêncio.
A obtusidade de uma inteligência gigantesca
Que não pode comunicar-se.
A profunda escuridão e falta de abrigo,
O sondar de noturnos olhos negros
Vidrados em cada miserável ser
A preocupar-se com sua ínfima existência.
O monstro flutua no cosmo!
A bocarra escancarada a devorar pequenos planetas
Com ridículas vidas crentes em leis cósmicas
De nasce e morrer.
A miséria óptica das moribundas estrelas,
Os contidos gemidos dos infelizes cometas,
A morte vagarosa dos pequenos astros
E os lamentosos dias contados do sol.
Vermes espaciais famintos
A corroerem tripas de estrelas cadentes.
Sanguessugas interplanetárias
A sugarem o núcleo das luas.
Recantos cheios de poeira cósmica,
Aranhas extraplanares a tecerem armadilhas.
Antigos deuses barbados escondidos
A roerem as unhas no esquecimento de si.
Gordas e impudicas matronas
A parirem novos sistemas sofredores
Em casas zodiacais infestadas de ratos
E toda a sorte de pestes.
Gelado é este meu leito,
Lugar de onde posso ver o infinito espaço,
Contemplar com horror nos olhos
A violenta chuva de meteoros.
Tempestades de raios cósmicos
Exterminam do vácuo
Fantasmas de cruéis infantes
Escondidos a pregarem peças.
Os mais impuros desejos dos mundos
Reflete-se nas impuras matérias do cosmo
Criando horrores amorfos
Dos quais fogem as nebulosas.
A octópode criatura,
No centro do infinito,
Funde infundíveis matérias
Criando a pegajosa energia que nos move.
Banhado pelo escarro dos sistemas,
Que ao todo é UM, sou despertado da visão
E rezo para que lá em cima, em verdade,
Só exista mesmo a escuridão.
Autor: Vagner Tadeu Firmino
18 de Março de 2.003