A notícia hoje é um pouco triste para algumas pessoas, mas completamente indiferente para a grande maioria, tenho a tarefa de informar para todos a morte de “A Triste Figura”.
Convivi muito tempo e bem de perto com esta figura trágica, dramática, inconstante e insegura, que depois de décadas de existência sofrida – e sofrível – resolveu ‘entregar-se aos beiços do húmus’, morreu A Triste Figura e ninguém percebeu... Na verdade, mesmo com tanta proximidade, até mesmo eu demorei a perceber. A figura já era uma espécie de moribundo, melhor, um cadáver ambulante, mas sem toda a graça e ‘simpatia ‘ de um zumbi. A sintomática Triste Figura estava mais para um chorão grão de areia no deserto, apenas mais um.
A data do falecimento ficou registrada como 03 de Julho de 2.012, mas acreditamos que a figura já estava morta há muito mais tempo, nós não percebemos, e acredito que ela também não. O sepultamento, pelo que contam, já que ninguém compareceu e até mesmo os coveiros quase se esqueceram de enterrá-lo, foi simples. Não houve choro, ninguém acendeu velas e nenhum padre apareceu por lá. Da forma que sempre lhe agradou ficar, isolado, foi velado e sepultado. Triste Figura, muito triste o fim desta figura.
Bem, enterrados os mortos, ficam as toneladas de papeis preenchidos por esta criatura ao longo de sua triste e infame vida e a mim cabe selecionar todo o material para ver no dá, sim selecionar será preciso, pois a maioria dos escritos do falecido são incompreensível... Em minha opinião nem mesmo o “autor das tortas linhas” compreendia o que escrevia. Alémdeste trabalho de compilação da indefectível obra da Triste Figura,eu seguirei sozinho com este blog e também passarei a publicar a biografia que estava escrevendo sobre a triste criatura, apenas não sei se aqui mesmo ou se em outro endereço, talvez faça também um memorial... Brincadeira.
Não vou me estender muito mais explicado sobre quem, ou o que, era A Triste Figura tudo isto será bem explanado na biografia, mas para que todos entendam do que e de quem estou falando, vou postar já uma colagem de textos que irão dar uma ideia melhor sobre a pessoa triste que foi este meu irmão gêmeo. Também servindo isto como uma pequena homenagem póstuma. Pegue uma caixa de lenços para enxugar as lágrimas, de tristeza ou de alegria, e boa leitura.
A TRISTE FIGURA
Estou cansado de rabiscar ideias,
Não completar tarefas,
Esboçar sentimentos
E apagar pensamentos.
Estou cansado de andar pela noite,
De tentar boas ideias.
Olhar em frente,
Lutar para abrir caminho.
Meus ossos estão velhos e ocos,
Tenho sangue doente
E ainda sou obrigado a lutar,
Falar e pensar.
Estou cansado de saber
Que não há quem queira ver
A Triste Figura.
De todos os textos de autoria de A Triste Figura com os quais me deparei, este é o que mais resume toda a ladainha da tristeza da figura. Este já foi postado aqui no blog em uma outra ocasião e faz parte da coluna lateral, não por minha vontade, mas por capricho do autor. Não que eu não goste deste texto, como já disse, ele é a síntese perfeita da personalidade, do autor. Eu já estava enjoado...
TEATRO
Ao abrir das cortinas,
Em meio à penumbra e do sólido silêncio,
O roto entra em cena.
Sobre sua cabeça chove uma torrente de lapsos
Enquanto uma enxurrada vermelha
Cobre seus pés.
Há um texto, mas dizê-lo é quase impossível
Uma ventania insiste em levar sua voz
E ela vai para longe discursar sobre um velho texto,
Que tem como princípio o próprio fim.
Em espasmos nervosos quebra as próprias mãos,
A plateia que lá não está urra.
Uma névoa de sonhos enche o palco,
O ator agora é tênue sombra e
Neste instante uma obra inteira lhe ocorre,
Mas não demora a esquecer tudo.
Tenta então improvisar um texto,
Mas ao não conseguir procura apenas pensar e
Acaba sufocado emmeio aos eflúvios de seu cérebro.
Não há mais o que tentar contra as forças que o impedem,
Procura então ficar parado e ajudar a compor
Um lindo e tétrico cenário,
Mas as luzes se apagam e fecham-se as cortinas.
Não haverá próximo ato, é tarde,
Jamais haverá outro espetáculo.
Mais um resumo sobre os sentimentos e personalidade do autor, mais uma vez ele se coloca como sendo aquele que ninguém quer ver, apenas mais um qualquerno meio de um cenário sem sentido.
DIOPHANES: TRONO E TRILHA
Diophanes.
Diophanes, o Príncipe Cadente, está em sue trono.
Entronado no pântano lança olhares profundos,
Mas nunca é capaz de ver o horizonte.
À sua frente existe espessa névoa.
Diophanes pensa em sua trilha,
Deita olhares na neblina.
O manto do isolamento pesa,
O báculo da introspecção esmigalha seus ossos.
Abaixa a cabeça e deixa cair
A Tiara Real da Circunspeção.
Por um momento enxergou um caminho.
Diophanes, o Príncipe Cadente,
Levanta de seu trono segregado,
Mas até a trilha além deve atravessar o charco.
Sujar os pés mesmo antes de atingir o caminho,
Ele já fez isto muitas vezes e em todas acabou de volta ao trono.
Ninguém pode garantir que agora será diferente,
Mas o Príncipe Cadente ergue-se decidido!
Livra-se de todos os paramentos e enfrenta o charco e o lodo,
Livre de quase todo o peso tenta o velho caminho
Para atingir a incerta nova trilha.
Como seria diferente?
Como poderia ser diferente com o Príncipe Cadente?
Diophanes, O Príncipe Cadente,
Do Panteão dos Desgraçados ergue-se!
Não há sinos,
Não há trompas,
Não há cortejo.
Afunda os pés no pântano perseguindo a trilha
Que viu apenas por um momento.
Diophanes caminha mais uma vez.
Em uma época funesta, A Triste Figura esteve entregue “às espirais negativas da morte”, naquele tempo até eu me preocupei com ele... Sabia de toda sua depressão, mas não me preocupava. O texto acima pertence a uma peça que ele escreveu chamada “Diophanes, o Príncipe Cadente”, a peça é muito confusa e cheia de falhas e delírios, mas a ideia do “Panteão dos Desgraçados” criado por ele até que é boa.
Diophanes é um reflexo direto da Triste Figura daquela época, um acomodado autodestrutivo e depressivo paramentado com todas as tralhas da depressão e do pessimismo mórbido que um dia tem um lampejo de esperança com a manifestação esquizofrênica de uma voz que somente ele ouve, e esta voz o põe de pé fazendo-o resolver viver outra vez.
De onde ele tirou este nome? Oras... Dom Quixote, o Cavaleiro da Triste Figura.
Pobre e triste figura que viveu tão pouco e ao mesmo tempo tanto, nada nunca lhe bastou e nunca nada desejou. Depressiva e triste figura que tanto escreveu para ninguém ler, de que adiantou?
Aqui acaba, de vez por toda, A TRISTE FIGURA.