Numa manhã comum percebeu que tudo o que realizara antes
E tinha como belo e importante havia se transmutado,
Tudo estava feio e sujo, do alvo ao pardacento, do vinho à água.
Percebeu que havia construído um castelo de escombros
Onde habitava acompanhado com toda a sorte de párias.
Estava arrependido por ter pensado e criado,
Ter transpirado noites e dias apenas para dar vida
A todo aquele hediondo e mal-cheiroso monte de entulho.
Não acreditava que um dia pôde conceber
Todos aqueles horríveis equívocos, todas aquelas linhas torpes.
Sentiu o peso de ter ardido em febre
E perdido a vida em vida por aquelas malditas
Construções mancas e rotas,
Teve vergonha ao deparar-se com todo aquele traste
Que guardava como rico tesouro.
Não adiantaria começar outra vez, como poderia?
Se de um momento a outro tudo se desfaria novamente.
Errara até então, então para que tentar de novo?
Entregou-se ao desespero, a vida não tinha sentido,
Mas foi nesta loucura que pôde criar
Um desfecho a altura do espetáculo de horror
Que criara pela incapacidade de perceber a própria mediocridade.
No devaneio da loucura, no desespero cego,
Afundou-se nos escombros escondendo-se nas trevas do próprio lixo
E lá embaixo percebeu pouco antes de sufocar
Que havia criado o mais belo e maldito túmulo.
Soterrou-se um pouco mais enquanto com orgulho pensava
Nesta sua mais recente, linda e perfeita obra.
Vagner Tadeu Firmino
29 de Julho de 2.004
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