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quinta-feira, 25 de julho de 2013

OS HOMENS OCOS



Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.


Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;


Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.



quinta-feira, 10 de maio de 2012

VAGAS DE MINHA VOLTA




Pelas vagas sou atirado contras as rochas.
Minhas abertas feridas ardem nas salgadas águas,
Mas nada existe de tão salgado
Quanto estas lágrimas de meu triste choro.
Triste, sofrido e inconsolável pranto.

Açoitando meu peito todas as ondas invadem meus pulmões,
Todas as infinitas outras açoitam todos os meus corações,
São muitos e são magoados todos os que eu possuo.
Água fria banha meu corpo imundo
Enquanto for eu filho deste maldito mundo!

Minha volta sofrida, triste e supurada volta.
Volta, apenas estou a dar volta...
O mesmo círculo
Pelas águas, sempre embalado, sempre embolado.

Será que nada nunca poderá dar fim a este bruxuleante lume?
Nesta teimosa chama que até contra minha vontade ainda arde?
Nada derrota este mal fadado destino
E nada nunca limpará a lástima deste ser humano.

Á deriva nestas águas onde houve o início
E ainda haverá o fim de todo o ciclo,
Cospem-me as vagas para cima e para frente.
Vejo as rochas próximas, mas ainda estão tão longe...
Logo serei arrastado para dentro e trás mais, uma vez.




Vagner Tadeu Firmino

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

EMILY DICKINSON - EU MORRI PELA BELEZA


Eu morri pela beleza…
Eu morri pela beleza,
e mal havia sido sepultada,
alguém que morrera pela verdade
era deixado no jazigo ao meu lado.
Perguntou-me com carinho por que eu havia fracassado.
“Pela beleza”, respondi.
“E eu, pela verdade, o que é a mesma coisa;
somos como irmãos”, ele disse.
E assim, como parentes que uma noite se encontram,
ficamos conversando entre os jazigos
até que o musgo alcançou os nossos lábios
e cobriu os nossos nomes.



Emily Elizabeth Dickinson, nascida em Amherst em 10 de dezembro de 1830 e morta em 15 de maio de 1886, nasceu numa casa cujo nome era The Homestead, construída pelos seus avós, Samuel Fowler Dickinson e Lucretia Gunn Dickinson, no ano de 1813. Samuel Fowler era advogado e foi um dos principais fundadores do Amherst College. Era a segunda filha de Edward e Emily Norcross Dickinson.
De família abastada, Emily chegou a cursar durante um ano o South Hadley Female Seminary. Abandonou o seminário após se recusar, publicamente, a declarar sua fé.
Quando findou os estudos, Emily retornou à casa dos pais para deles cuidar, juntamente com a irmã Lavínia que, como ela, nunca se casou.

Em torno de Emily, construiu-se o mito acerca de sua personalidade solitária. Tanto que a denominavam de a “Grande Reclusa”. É importante que se diga, que este comportamento de Emily condizia com o modelo de conduta feminina que era apregoado na Massachusetts da época. Emily, em raros momentos, deixou sua vida reclusa, tanto que em toda sua vida, apenas fez viagens para a Filadélfia para tratar de problemas de visão, uma para Washington e Boston. Foi numa destas viagens que Emily conheceu dois homens que teriam marcada influência em sua vida e inspiração poética: Charles Wadsworth e Thomas Wentworth Higginson.
Emily conheceu Charles Wadsworth, um clérigo de 41 anos, em sua viagem à Filadélfia. Alguns críticos creditam a Wadsworth, como sendo o alvo de grande parte dos poemas de amor escritos por Emily.
Quase tudo que se sabe sobre a vida de Emily Dickinson tem como fonte as correspondências que ela manteve com algumas pessoas. Entre elas: Susan Dickinson, que era sua cunhada e vizinha, colegas de escola, familiares e alguns intelectuais como Samuel Bowles, o Dr. e a Mrs. J. G. Holland, T. W. Higginson e Helen Hunt Jackson. Nestas cartas, além de tecer comentários sobre o seu cotidiano, havia também alguns poemas.
Foi somente em torno do ano de 1858 que Emily deu início a confecção dos fascicles (livros manuscritos com suas composições) , produzidos e encadernados à mão.
É intensa a sua produção de 1860 até 1870, quando compôs centenas de poemas por ano. Em 1862, envia quatro poemas ao crítico Thomas Higginson que, não compreendendo inteiramente sua poesia, a desaconselha de publicá-los.
A partir de 1864, surpreendida por problemas de visão, arrefece um pouco o ritmo de sua escrita. Emily Dickinson apesar de ter escrito em torno de 1800 poemas e quase 1000 cartas, não chegou a publicar nenhum livro de versos, enquanto viveu. Os registros que se tem, é que apenas anonimamente, publicou alguns poemas. Toda a sua obra foi editada postumamente, sendo reconhecida e aclamada pelos críticos.
A edição crítica completa, organizada por Thomas H. Johnson, contando com 1775 poemas, ocorreu apenas em 1955, após seu acervo ter sido transferido para a Universidade de Harvard. Posteriormente acrescida de outros poemas, em 1999, surge outra edição, organizada por R. W. Franklin, com 1789 poemas.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

FLORBELA ESPANCA - POEMAS SELECIONADOS - E-BOOK


DIZERES ÍNTIMOS


É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade! ... )
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova! )
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ... ”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova! ... ”