Vento! Ventania!
Andei gritando pelo campo.
Observava os espantalhos farfalhando levemente
No ar quase parado.
Vento! Ventania!
Ele veio, mas não só,
Trouxe consigo pesadas nuvens de um negrume
Tão encorpado quanto os rolos de fumaça
Expelidos pelas chamas
Que ardiam nos corações dos espantalhos.
Foi daí que desabaram as águas
Que molharam os espantalhos,
Que dissiparam toda a fumaça,
Que afogaram as ervas
E pegaram-me mais uma vez
Falando sobre tudo o que já dissera antes.
Sob raios e trovões estive dormente
Até todo o granizo atingir o campo
Abrindo feridas e destroçando os espantalhos.
Eu ainda gritava,
Ainda evocava a ira que derrubara os remotos templos.
O campo era tranqüilo e monótono
Antes de meus pés o pisarem,
Antes de minha vociferação
Ir rasgar o silêncio dos espantalhos.
Via-os agora a debaterem-se ao vento como loucos
Golpeados de maneira impiedosa
Pelo bater de um par de asas
Diabolicamente angelicais.
Tudo estava perdido,
O campo e os espantalhos já não se pertenciam mais.
Estaquei-me ao solo
E morosamente abri meus braços
Entregando-me também aos açoites
Da fúria que atraí.
A onda leviatânica então ergueu-se
E afogou a nós,
Os espantalhos.
Era fim de todas as estagnadas dores,
Fim de todos nós bonecos.
Viva esta vida Espantalho,
Se podes.
Como não pode assim como nós não podemos,
Então morre, morramos todos,
Que morte é liberdade.
Padeçamos ao açoite da tempestade,
Findemos como corajosos
Aceitando de peito nu
Mais um golpe do carrasco
E, de braços escancarados,
Abracemos a última onda,
O derradeiro aguaceiro
Que vem de vez por todas
Afogar-nos.
Vento! Ventania!
Estive gritando pelo campo.
Vagner Tadeu Firmino
16 de Junho de 2.003
Vagner, muito bom esse poema!
ResponderExcluirPois é, não é uma postagem nova, mas é que estou lendo-as aos poucos, meio fora de ordem...
O que importa é que não conhecia esse seu texto, e hoje dormirei impressionada por ele.