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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

AS PERGUNTAS UNIVERSAIS



            Porque não posso olhar para o céu azul e com ele me alegrar? Como as outras pessoas sentir todo o bem-estar de um dia de sol com seus raios quentes a acariciar-me os braços, o pescoço e todo o resto? O que há de errado nesta pessoa que nem ao menos reconheço como sendo eu mesmo?
            Como posso não me contentar como a imensa maioria que me cerca com suas misérias? Como pode ser que me regorjeie nesta tristeza solitária e escura?
            Sou um obscurecido pela minha sombra, um rascunho de homem que vive a ouvir ladrares e uivos de um cão dentro da própria cabeça, sou um torpe. Um roto espantalho despedaçado que insiste em continuar fincado no meio de um palco, uma feia e obtusa peça decorativa, um poço seco, escuro e profundo.
            Se houve um dia brilho nesta carcaça foi como o de uma vela em meio a fortes luzes artificiais. Sinto-me enfadonho e aborrecido de minha própria tristeza, de minha falta de consideração para comigo mesmo. Sinto uma teia de aranha a cobrir-me o rosto e um laço no pescoço, mas não há altura suficiente para que possa jogar-me, pois vivo rastejando em nível inferior ao das menores ervas deste tétrico jardim.
            Faço parte de uma companhia de teatro onde sou único ator e tenho de sozinho representar um drama. Representar não, viver.
            Vim de indecifráveis crateras lunares e fui batizado com uma cusparada cármica sarcástica e malevolente, depois fui despejado de minha toca e lançado a esmo com todo o outro lixo rejeitado pelas inexistentes camadas que os outros gostam de chamar “SUPERIORES”.
            Mesmo não acreditando que exista GRAÇA ou CULPA sei que serei enviado pela Divina Graça a infernos onde terei de expiar toda a CULPA por pecados que não cometi por vontade, mas sim fui obrigado para sobreviver perante as leis deste mundo e desta vida inútil, asquerosa e improdutiva.
            Fizeram de mim uma vítima e vestiram-me a mortalha, colocaram no meu corpo símbolos, na minha mente dogmas e no FINAL sei que não irão salvar-me. Também não deixarão que eu me salve, pois me impedem de morrer.
            Respondi a perguntas universais que puseram diante de mim desde o INÍCIO e minha compensação é este tormento, acordado ou dormindo é este lamento e todo este sofrer.
            Meu castigo é existir e continuar existindo mesmo depois de tudo e este tudo que os outros chamam de “TODO” é saber que não há uma Única Consciência Cósmica, não existe um Deus antropomórfico. E um explica ISTO e o outro AQUILO.
            A melodia encanta aos ouvidos humanos, mas a serpente é atraída tão somente pelos movimentos da flauta.



Autor: Vagner Tadeu Firmino