terça-feira, 1 de março de 2011

MEDO DA MORTE



            Pela primeira vez em minha vida sinto medo da morte. A morte sempre foi para mim um grande desfazer de tramas, um corretivo para as injustiças, o finalmente descansar e livrar-se deste mundo.
            Quando era mais jovem acreditava ser imortal, que para não morrer era preciso somente desejar fortemente viver, isto parecia abrir diante de mim possibilidades infinitas de realizações, bravuras e atos heróicos, após a adolescência e por volta dos 20 anos percebi que não poderia ser imortal, mas achava-me invulnerável a quase tudo.
            Mas mesmo com todos estes pensamentos outra parte de mim jamais acreditou que chegaria aos trinta anos de idade, nem em meus melhores momentos de humor podia me enxergar chegando aos trinta. Parecia uma idade tão distante que não chegaria nunca e se chegasse iria acabar com toda a graça de ser eu. Veja só que ironia, completo 34 neste ano e ainda estou vivo, vivo e melhor do que quanto tinha os imberbes 15 ou os confusos 20.
            Nunca fui apegado ao material, nunca dei muito valor aos laços familiares, sempre tive a consciência de que tudo acaba e a melhor maneira de lidar com isto era exatamente o desapego, pois somente desta forma eu poderia não sentir falta quando tudo se acabasse. E agora que consigo ponderar claramente sobre o que é vida, abateu-se sobre mim um gelado medo de morrer.
            Uma situação assim chega a ser embaraçosa, nunca quis realmente viver, para mim esta existência nunca passou de um aborrecimento, uma série de eventos cínicos e sarcásticos, um circunlóquio de botequim, uma coisa completamente sem fundamento ou finalidade. Achava terrível ter de viver neste mundo e nunca entendia porque ainda algumas pessoas que tinham crença na vida depois da morte, seja para a reencarnação ou para aguardar a salvação. Para mim a salvação era a morte.
            Hoje entendo a fragilidade da carne humana, sinto um finíssimo fio que nos prende na situação de vivos, alguns resolvem estourar o fio e livrar-se logo da ridícula amarra, outros preferem esperar o fio estourar de repente. Não me cabe dizer quem está certo.
            O fato é que hoje, aos 33 anos de idade tenho um medo pegajoso de encontrar, como já escrevi antes, as mandíbulas da morte e ser entregue aos beiços do húmus. Ainda falta muito a fazer, existem assuntos pendentes e coisas que jamais gostaria de deixar par traz. Viver ou morrer não depende de nosso querer, morrer é um fato, é o acontecimento que não podemos prever, é o ladrão escondido no beco é o monstro de baixo da cama.
            A morte e a tristeza sempre tão presentes em meus textos e poesias agora me atingem sem piedade, sempre tanto falei e escrevi desta dupla que agora me perseguem aos calcanhares.



Vagner Tadeu Firmino
21 de Fevereiro de 2.011



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