AUTÔMATO
Os dias anteriores haviam sido
chuvosos, mas agora o tempo estava aberto e todos estavam sofrendo com o calor
e a poluição. Alex caminhava pelas ruas do centro apinhadas de gente e assim
como as demais pessoas, ele tinha o semblante preocupado e os passos apressados,
mas a preocupação e a pressa de Alex, ao menos daquela vez, era diferente da
que assolava aos demais, seus pensamentos estavam divididos entre o volume que carregava
debaixo do casaco e a descoberta inquietante da noite anterior.
“Hoje não é apenas mais um dia comum”, pensava
consigo mesmo. Durante a noite anterior o jovem contabilista, sozinho, teve uma
revelação que transformou todos os seus pensamentos, indignado com a cegueira sobre
si mesmo e excitado com toda a verdade descoberta, Alex percebeu o que ele realmente
era e não se sentiu estranho ou espantado com aquilo apenas experimentou de uma
necessidade incontrolável de revelar aos outros a verdade.
“Eu rasgarei o véu, eu mostrarei a
todos do que sou feito e literalmente eles poderão ver...”. Pensou um pouco e
continuou: “Libertarei todos das mentiras, devem existir outros como eu!”,
pensava com orgulho, “Nunca mais me enganarão, nunca mais nos enganarão”. As
conjecturas de Alex atingiram níveis incompreensíveis mesclando ansiedade e euforia
quando chegou ao prédio de escritórios onde trabalhava. Entrou sozinho no
elevador e tirou o casaco, o objeto que carregava ficou exposto e Alex o olhou
com uma cumplicidade de irmão.
Entrou abruptamente no escritório bloqueando
a porta, que também era a única saída, assustados seus colegas o viram de arma
em punho e começaram a gritar e se esconder, Alex sorria abertamente enquanto
apontava a grande arma para a própria cabeça enquanto bradava: “Eu descobri a
verdade sobre o que eu realmente sou, vim até aqui para que vocês possam saber
também e, um dia certamente, descobrir que talvez vocês sejam iguais a mim!”.
Sua fala atingiu um tom profético e solene enquanto
desenvolvia seu discurso final reticente: “Talvez, alguns de vocês também sejam
como eu... Eu não sou humano, eu sou uma espécie de monstro, um tipo oculto de parafernália...
Uma traquitana ainda não explicada sendo desvelada frente seus olhos. Acredito
que assim como eu existo, devem existir muitos outros como eu”. Ele parou por
um instante procurando os olhos das pessoas desesperadas dentro da sala, mas ninguém
olhava diretamente para ele, todos estavam assustados e encolhidos pelos
cantos, debaixo das mesas ou abrigados atrás de divisórias desgastadas.
Alex sorriu e, como era de seu costume, se desculpou
por toda agitação que havia causado e fechando os olhos disparou a arma contra
a própria cabeça.
Depois do estampido do revólver houve silêncio, aos
poucos as pessoas foram se aproximando do corpo caído que bloqueava a porta. Do
buraco aberto pelo projétil não saía sangue algum, havia apenas um fluído
cinzento, óleo e uma profusão de minúsculas engrenagens e finas correntes.
Autor: Vagner Tadeu Firmino
A Triste Figura
Moderno Bestiário Urbano
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Fonte das Imagens: Internet.
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