domingo, 10 de julho de 2022

TITIVILLUS

TITIVILLUS

O Demônio que induzia erros literários.

Os monges medievais deram o nome de Titivillus a um diabinho encarregado de induzir a erro e omissões em textos que os escribas (copistas e calígrafos) levavam a cabo durante seus extensos trabalhos de cópias de livros.

 

A origem e as tarefas

 

A origem de Titivillus perde-se no tempo e já teve diversas aparências distintas durante os séculos e até mesmo sua função já foi alterada diversas vezes, no século IV dizia-se que Titivillus percorria os monastérios cristãos com a função de anotar os pecados que ali eram cometidos, tendo também como tarefa anotar o nome dos monges que por ventura perdessem a concentração durante a celebração de ofícios religiosos, entendendo que esta perda de concentração podia manifestar-se como erros de leitura das Sagradas Escrituras ou se um ouvinte não estava dedicando a devida atenção por estar pensando em outros assuntos ou por estar em conversas vãs. De qualquer forma a perda da concentração durante os ofícios religiosos acarretava em mais um nome nas anotações de Titivillus.

 

Sua posição na Litania Infernal – Demonologia

 

Sempre, e isto era comum em todas as épocas e representações do diabinho, Titivillus viajava todos os dias ao inferno para informar a Satanás o nome do monge e o pecado cometido e este por sua vez anotava as informações em um grande livro que seria lido diante de todos no Juízo Final.

Apesar de aparentemente ter uma importante função, a de atrapalhar a vida dos disseminadores dos estudos religiosos, Titivillus era um demônio menor. Respondendo para Belphegor, Lúcifer ou Satanás, seu ordenador foi alterado com o passar do tempo, sendo mencionado pela primeira vez no “Tractatus de Penitentia”, escrito por Johannes Galensis que também indica que o primeiro a nomeá-lo foi o escritor alemão Cesário de Heistenbach.


A demanda pelos livros e a redenção do diabinho

 

Durante o século XV a demanda de livros se multiplicou de tal maneira que os monges não podiam dar conta. Era tal a quantidade de textos solicitados pelas universidades que o excesso de trabalho a que eram submetidos os copistas que os erros ortográficos e as omissões afloravam com força total. E a partir deste momento Titivillus passou a não anotar mais os erros e os pecados induzidos por ele mesmo, a desculpa perfeita, assim Titivillus converte-se em patrono dos escribas, copistas e calígrafos. Ele passou a ser representado em peças satíricas perdendo toda a sua antiga periculosidade como apontador dos erros para o fim dos tempos.

Com o tempo caiu no esquecimento da maioria, mas ainda assim fez ‘aparições’ em peças satíricas e peças cômicas. Todas sem o reconhecimento público de sua figura, ao longo do tempo alguns estudos apontaram o que pode ser a presença de Titivillus em artes sacras e outros escritos religiosos, sua presença em grimórios antigos e demais tratados de ocultismo e demonologia é quase nulo.

Diego de la Cruz, A Virgem da Misericórdia com os Reis Católicos e sua família. Monasterio de las Huelgas, Burgos. À direita, carregando um saco cheio de livros, Titivillus.


Já em tempos mais modernos, consagrou-se como patrono dos escribas, de trabalhos de caligrafia e, posteriormente, de editores e de projetos literários. O que era uma ameaça ao caminho santo após a morte, e possivelmente uma desculpa para obter-se absolvição, transformou-se na figura de um patrono para as artes literárias.

 

~ Texto publicado originalmente em 2.009 no fanzine eletrônico Manu Nocturna – Pequenas Realidades de Horror. ~ Editado por Vagner Tadeu Firmino & A Triste Figura.

 

 

Autor: Vagner Tadeu Firmino

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Fonte das Imagens: Internet.

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