segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ASSOVIO

Ouço o pavoroso assovio das rajadas de vento e sinto nos ossos a gélida sensação da oculta observação proveniente da profunda cultura dos vermes subterrâneos, que sempre estão a desfrutar da franca saúde da profundeza desconhecida, este local onde impera a escuridão e se multiplicam os destroços de todas as coisas antigas que um dia já estiveram mais acima. Caio em estado de loucura neste pensamento circular de tristeza e angústia, que existe nesta irrevogável lei de desprezo e má conduta.
            Canta lúgubre o assovio em meus ouvidos infeccionados pela falácia sem limites desta sociedade metodicamente idiota, esmerada em pregar seus dogmas na tentativa de coordenar toda minha vida e absorver até mesmo minha alma. O som cavernoso emitido pela boca desdentada comandada pelo menor cérebro primitivo dentre todas as menores criaturas, oferta-me poemas traiçoeiros e canções sinistras. A consciência destes povos ditos VIVOS iguala-se de inegável maneira aos vermes que devoram os ditos MORTOS.
            O sopro contaminado do vento aproxima de mim os pareceres sociais sobre minha figura e, sob o trêmulo lume com o qual coexisto, temo as palavras no sussurro agourento deste assovio tal qual o fraco teme esta vida que não passa de um amontoado de equívocos tristes a nos conduzir para um único fim magistralmente composto de dor, solidão e esquecimento.
Todo o bolo inseparável de pequenos organismos que vivem sob meus pés nunca receberá meus despojos, pois para sempre serei vivo, mas jamais estarei junto com aqueles que mais acima convivem. Enquanto VIVO, sempre estarei MORTO e neste limiar nunca passarei para um lado ou para o outro, sempre para os vivos serei como o morto e para os mortos serei como o vivo.

Sopra o vento em rajadas assoviando em meus ouvidos a sentença incompreensível e injusta ditada pelas forças naturais que não reconhecemos como tais, o que está fora da natureza somos nós em nossas esmeradas tolices e conceitos equivocados. Estamos cheios de nosso orgulho por aquilo que não fizemos e por tudo aquilo que somos incapazes de fazer, VIVOS estamos MORTOS e desta forma isto que chamamos de MUNDO, na verdade, não passa de uma COVA.

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