Ouço
o pavoroso assovio das rajadas de vento e sinto nos ossos a gélida sensação da
oculta observação proveniente da profunda cultura dos vermes subterrâneos, que
sempre estão a desfrutar da franca saúde da profundeza desconhecida, este local
onde impera a escuridão e se multiplicam os destroços de todas as coisas
antigas que um dia já estiveram mais acima. Caio em estado de loucura neste
pensamento circular de tristeza e angústia, que existe nesta irrevogável lei de
desprezo e má conduta.
Canta lúgubre o assovio em meus
ouvidos infeccionados pela falácia sem limites desta sociedade metodicamente
idiota, esmerada em pregar seus dogmas na tentativa de coordenar toda minha
vida e absorver até mesmo minha alma. O som cavernoso emitido pela boca
desdentada comandada pelo menor cérebro primitivo dentre todas as menores
criaturas, oferta-me poemas traiçoeiros e canções sinistras. A consciência
destes povos ditos VIVOS iguala-se de inegável maneira aos vermes que devoram os
ditos MORTOS.
O sopro contaminado do vento
aproxima de mim os pareceres sociais sobre minha figura e, sob o trêmulo lume
com o qual coexisto, temo as palavras no sussurro agourento deste assovio tal
qual o fraco teme esta vida que não passa de um amontoado de equívocos tristes
a nos conduzir para um único fim magistralmente composto de dor, solidão e
esquecimento.
Todo
o bolo inseparável de pequenos organismos que vivem sob meus pés nunca receberá
meus despojos, pois para sempre serei vivo, mas jamais estarei junto com
aqueles que mais acima convivem. Enquanto VIVO, sempre estarei MORTO e neste
limiar nunca passarei para um lado ou para o outro, sempre para os vivos serei
como o morto e para os mortos serei como o vivo.
Sopra
o vento em rajadas assoviando em meus ouvidos a sentença incompreensível e
injusta ditada pelas forças naturais que não reconhecemos como tais, o que está
fora da natureza somos nós em nossas esmeradas tolices e conceitos equivocados.
Estamos cheios de nosso orgulho por aquilo que não fizemos e por tudo aquilo que
somos incapazes de fazer, VIVOS estamos MORTOS e desta forma isto que chamamos
de MUNDO, na verdade, não passa de uma COVA.
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