Hoje tenho a alegria de poder postar aqui um conto de um grande amigo meu, senão o melhor, Márcio Fontes da Silva, vulgo Dengue. Este texto foi publicado originalmente no Fanzine Manu Nocturna nº 1 dando uma grande força ao projeto que eu desenvolvia na época e pretendo retomar em breve.
MUTAÇÃO
Eu nasci em um mundo onde vivo em extremo terror.
Já perdi milhares de familiares que rumam sem saber pra onde e eu serei um deles também.
Estou aqui esperando minha vez e meu destino é certo.
Todos os dias me preparo para a jornada e eu sei que vou encontrar muitos obstáculos pela frente.
Há algumas horas, uma leva de amigos deu inicio a sua jornada ao desconhecido... Nós somos assim, impacientes e lutamos para ir.
Ninguém nunca voltou para nos contar como é.
Vida dura essa!
Chegou minha vez e estou ansioso.
Caminho até a única saída existente.
Todos dizem que é maravilhoso, mas eu tenho minhas dúvidas, ainda sou muito jovem e essa viajem é o que espero por toda vida.
Junto comigo vai uma leva de amigos, parentes e desconhecidos, e nunca saberei o porquê de sermos muitos desta vez. A corrida vai ser cansativa...
A pressão exercida é grande e inicia-se a Grande Corrida (maiúscula mesmo, pra dar destaque). Inconscientemente eu sei que posso morrer e sigo correndo com vários ao meu lado, e preciso ser o mais rápido. Vejo muitos se perdendo no caminho e parando.
Corro o máximo que posso, mas minhas energias vão se exaurindo, cada vez mais...
Sigo por caminhos estranhos e desconhecidos.
Para chegar ao meu objetivo terei de vencer o cansaço e batalhar ainda para romper a última barreira.
Olho ao meu lado e vejo meus muitos companheiros, exaustos, morrendo por falta de forças. Eu ainda tenho esperança e muitos ainda estão chegando... E meu momento é agora.
Encontrei uma pequena brecha. Entro de cabeça nessa brecha e sinto que vou me desfazer...
Vejo uma luz, e essa luz me cega.
Entro e tenho a sensação de não ser mais eu mesmo.
Lá na luz me sinto seguro e percebo que quem venceu fui eu.
Encontro algo que me toma me reveste e que me acalma.
Misturo em mim muito do que encontro ali.
É quente, é gostoso e finalmente começo a crescer.
Conforme passa o tempo eu entendo o porquê não tem volta. Vou mudando minha forma e aparência conforme vou crescendo, vou me transformando dia a dia aumentando meu tamanho, minha forma, minha silhueta.
É pavorosa a sensação de ser tomado por uma força desconhecida que se funde a você, calma e lentamente.
Vou me moldando a esse novo ambiente. Surgem novas formas, me duplico e me transformo.
Tenho cuidado de não me perder nessas transformações...
Vou mudando ao longo do tempo, crescendo e me cuidando.
Fique bem maior do que era.
Coisas novas que nem sei para que servem surgem.
Fico maior e ouço coisas estranhas.
Meu mundo ficar maior e mais vasto, mas fiquei só.
Sei que no passado éramos muitos e agora sou eu dentro deste estranho mundo.
Quando consigo me acostumar com minha nova aparência, vem novamente aquela sensação estranha do passado. Sinto meu mundo se acabando mais uma vez, e aquele “mundinho” começa a se desmanchar.
Entro em pânico e, novamente, começo a visualizar uma luz, igual a primeira, só que muito mais forte. Sinto a necessidade de gritar, bem forte e bem alto.
Desta vez sou arrancado de meu mundo e entro em outro bem estranho, minha voz está engasgada, sinto uma coisa que nunca senti e muito tempo depois descubro que isto se chama dor.
Agora vivo em um terceiro mundo e agora eu tento entender o que acontece: Deixei de ser um espermatozóide e agora todo mundo me chama de Márcio.
MUTAÇÃO
Autor: Márcio Fontes da Silva
Revisão: Roberta Nunes
Somos irmãos meu querido!
ResponderExcluirAgradeço a homenagem...